
Uma carta assinada por 29 instituições financeiras internacionais ameaça por fim ao comércio com o Brasil por conta do desmatamento na Amazônia. O posicionamento dos investidores, que são de toda parte do mundo, foi publicado nesta terça-feira (23) pelo jornal britânico Financial Times. A carta foi entregue ao governo brasileiro.
“Como instituições financeiras, que têm o dever fiduciário de agir no melhor interesse de longo prazo de nossos beneficiários, reconhecemos o papel crucial que as florestas tropicais desempenham no combate às mudanças climáticas, protegendo a biodiversidade e assegurando serviços ecossistêmicos”, diz o documento.
Para as empresas, que juntas gerenciam mais de US$ 3,7 trilhões em ativos totais, o aumento do desmate na Amazônia preocupa. “Considerando o aumento das taxas de desmatamento no Brasil, estamos preocupados com o fato de as empresas expostas a desmatamento potencial em suas operações e cadeias de suprimentos no Brasil enfrentarem uma dificuldade crescente de acessar os mercados internacionais. Também é provável que os títulos soberanos brasileiros sejam considerados de alto risco se o desmatamento continuar”, afirma a carta.
O jornal britânico lembrou que o desmatamento na Amazônia aumentou durante o governo Bolsonaro, que defende a exploração de terras protegidas. O Financial Times reforçou que o Brasil registrou, nos primeiros quatro meses do ano, o desmate de uma área com o dobro do tamanho da cidade de Nova York. O desmatamento, em meio à pandemia de coronavírus, foi promovido por madeireiros e garimpeiros. O jornal informou ainda que a floresta é desmatada para dar lugar a pasto para criar bois.
Executivo-chefe da Storebrand Asset Management, que detém US$ 80 bilhões sob sua gestão, afirmou ao Financial Times que o Brasil precisa proteger a Amazônia. “Queremos continuar investidos em empresas brasileiras, mas é preciso haver um uma regulação estável e previsível e arcabouço ambiental e políticas que estão alinhados com a sustentabilidade que trarão uma mudança de curso”, disse. “Eventualmente, se não virmos esse tipo de mudança, o risco de permanecer investido poderá chegar a um ponto em que não permaneceremos investidos”, completou.
Na opinião de um gerente de portfólio de um grupo europeu de gerenciamento de ativos, o boicote pode, de fato, ser executado. Segundo ele, não se trata apenas de uma ameaça. “Acreditamos que o Brasil pode enfrentar desafios econômicos estruturais se não ajustar seu curso de ação”, disse.
A agropecuária brasileira é um setor que causa especial preocupação aos investidores internacionais. A JBS do Brasil, uma das maiores empresas do ramo, já foi alvo de diversas acusações de compra de vacas advindas de áreas desmatadas na Amazônia. De acordo com o jornal britânico, a indústria brasileira de frigoríficos pode ser excluída dos mercados internacionais por conta do desmatamento gerado por ela.
Para o gerente de portfólio da empresa europeia, “o maior medo é sempre que nossos ativos percam valor. Isso pode ser causado por empresas que perdem o acesso ao mercado, mas também devido a danos à reputação”.